Taxas dos DIs disparam com falta de medidas fiscais e perspectiva de vitória de Trump
As taxas dos DIs dispararam nesta sexta-feira e encerraram acima dos 13% em quase toda a curva, com os ativos novamente pressionados pela falta de medidas fiscais do governo Lula e pela perspectiva de que Donald Trump será o vencedor da eleição presidencial nos EUA.
Alguns trechos da curva passaram a mostrar taxas próximas de 13,30%, algo que não era visto desde março de 2023, ainda no início do terceiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, quando ainda não havia clareza sobre a política fiscal a ser implementada pelo governo.
No fim da tarde desta sexta-feira a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,33%, ante 11,281% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2028 estava em 13,29%, em alta de 31 pontos-base ante o ajuste de 12,984% da véspera, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,11%, ante 12,814%.
Expectativa de vitória de Trump
Após o impacto inicial do payroll, as taxas voltaram a ganhar força nos EUA e no Brasil, novamente em razão da expectativa de que o republicano Trump derrotará a democrata Kamala Harris na disputa eleitoral da próxima terça-feira. As políticas de Trump são vistas como mais inflacionárias que as de Kamala, o que tem dado suporte às curvas de juros futuros.
“E temos a pressão das eleições nos EUA. A chance de vitória de Trump tem sido menos benigna para os países emergentes”, acrescentou.
Falta de medidas fiscais
No Brasil, a falta de medidas concretas na área fiscal amplificou a alta das taxas. “Dois fatores combinados vêm sendo fontes de pressão nas últimas semanas. Um é o fiscal, pois não há clareza sobre as medidas e nem sobre o ambiente político para que elas sejam implementadas”, comentou Getulio Ost, superintendente de Renda Fixa da SulAmérica Investimentos.
“Depois dos dados (do payroll), vimos os (prêmios dos) DIs voltando para patamares bem altos… grande parte pelo maior sufoco que estamos passando durante esse ano todo, que é o fiscal”, disse Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos.
Choque fiscal
A ideia da necessidade de um “choque fiscal” para segurar as taxas de juros também vem sendo defendida pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Na ponta curta da curva, as taxas seguiram nesta sexta-feira precificando de forma majoritária a elevação de 50 pontos-base da taxa Selic na próxima semana, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Mas a possibilidade de elevação maior embutida na curva cresceu.
Profissionais ouvidos pela Reuters têm avaliado que parte dos prêmios embutidos na curva pode diminuir caso Kamala seja a vencedora da disputa na terça-feira. Isso vale também para o dólar, que superou os 5,80 reais nesta sexta-feira em função da expectativa por vitória de Trump.
No entanto, boa parte dos prêmios embutidos nos ativos brasileiros se deve ao cenário fiscal — ainda sem uma solução crível.
Júlio Rossato