Aramco pode cortar dividendo ou se endividar
A Saudi Aramco terá uma decisão crucial a tomar no início do próximo ano: cortar seu dividendo trimestral de R$ 179 bilhões (US$ 31 bilhões) e correr o risco de agravar o déficit orçamentário do reino, ou continuar se endividando para manter o pagamento.
A maior exportadora de petróleo do mundo é uma peça-chave no sistema financeiro saudita, com suas vendas de petróleo e generosos pagamentos ajudando a financiar os planos de gastos trilionários do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman.
Pressão financeira
O orçamento do reino está sendo pressionado devido aos preços do petróleo permanecerem contidos, enquanto a produção se mantém perto dos níveis mais baixos em três anos. Essa dependência está colocando uma pressão crescente sobre o balanço patrimonial da Aramco, uma vez que está distribuindo mais do que está ganhando, levando a empresa a uma posição de dívida líquida no terceiro trimestre.
É comum que grandes empresas de petróleo usem seus balanços para aumentar os empréstimos durante períodos de baixos preços do petróleo, a fim de continuar pagando os acionistas. A Aramco não é diferente. Ela levantou cerca de US$ 8 bilhões em títulos em dólares em 2020 e mais US$ 6 bilhões no ano seguinte. Seu índice de endividamento é de cerca de 2%, baixo em comparação com a alavancagem de dois dígitos da maioria das grandes empresas de petróleo globais.
Dividendo em risco
O dividendo da Aramco é composto por dois pagamentos, sendo o primeiro de R$ 117 bilhões (US$ 20,3 bilhões) por trimestre e o segundo vinculado ao desempenho fixado em R$ 62 bilhões (US$ 10,8 bilhões) a cada trimestre este ano. O componente especial deverá ser pago como uma porcentagem do fluxo de caixa livre a partir do próximo ano. Há espaço para a Aramco se endividar mais, o que pode ajudar a manter o dividendo próximo aos níveis atuais, segundo analistas.
Fragilidade econômica
Ainda assim, a perspectiva para o petróleo é fraca, o que significa que a Aramco deve ter cuidado para não pressionar demais o balanço patrimonial. A Arábia Saudita e outros membros da aliança OPEC+ adiaram no domingo um aumento gradual na produção pela segunda vez para o próximo ano, já que os preços do petróleo continuam a enfrentar dificuldades em meio a uma perspectiva econômica frágil. O petróleo Brent em Londres caiu 13% nos últimos quatro meses.
A Aramco levantou US$6 bilhões em títulos em julho, em sua primeira oferta de dívida em dólares em três anos. Vendeu mais US$ 3 bilhões em títulos islâmicos denominados em dólares em setembro. Mais empréstimos também somariam aos $50 bilhões que o governo saudita e entidades como seu Fundo de Investimento Público emitiram em títulos em 2024, tornando-se um dos maiores emissores de dívida internacional em mercados emergentes este ano.
Júlio Rossato