MEIs devem ter planejamento financeiro para ter sucesso
Desde a reforma trabalhista que tornou possível a contratação de prestadores de serviços terceirizados em todas as áreas das empresas, em 2017, o número de microempreendedores individuais (MEI) quase dobrou no Brasil: saindo de 7,6 milhões para 14,6 milhões no ano passado. Junto a isso, o 'Perfil do MEI', estudo divulgado em junho pelo Sebrae, mostra que 60% dessas pessoas atuavam, antes, sob as regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
A mudança da carteira assinada para o MEI pode favorecer o trabalhador, que terá uma menor incidência de encargos sobre os seus ganhos, mas especialistas alertam para a necessidade de rever o comportamento com as finanças — pessoais e empresariais. O presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), Reinaldo Domingos, aponta que alguns profissionais, ao se 'pejotizarem', acreditam que continuam com a mesma relação de trabalho, mudando somente o vínculo.
"Muitos se esquecem que não contam mais com os benefícios garantidos pela CLT, como férias remuneradas, FGTS, 13º salário, e licenças, como a maternidade." Domingos explica que essa nova condição requer que o MEI adote uma visão empresarial sobre seus ganhos. Isso porque, ao receber o valor bruto do trabalho, pode haver uma falsa impressão de aumento de renda. "Só que essa quantia precisa ser gerida com responsabilidade, destinando uma parte para cobrir as ausências desses benefícios", diz.
Orçamento e reservas financeiras
O presidente da Abefin recomenda a reserva de 30% da receita mensal, a fim de cobrir as 'faltas' do antigo vínculo CLT. "A cultura financeira de quem migra para o MEI precisa mudar, porque a responsabilidade pelo futuro financeiro passa a ser do próprio profissional."
É importante que os MEIs revisem todas as entradas e saídas de dinheiro, ajustando o orçamento para cortar gastos desnecessários, negociar prazos maiores com fornecedores e, se possível, renegociar dívidas para melhorar o fluxo de caixa. Além disso, é fundamental monitorar a situação fiscal do negócio, com atenção especial ao pagamento mensal do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) e ao envio da Declaração Anual de Faturamento.
A falta de reservas para emergências pode impactar o bem-estar financeiro dos MEIs, especialmente em períodos de baixa demanda. Os especialistas frisam a importância de separar uma parte dos ganhos para períodos de menos movimento e para licenças de software, manutenção de equipamentos e treinamentos, que antes eram cobertos pelo empregador.
Metas e planejamento
Ter um orçamento que contemple gastos fixos, reservas de emergência e investimentos para o negócio é essencial. Antes de expandir o padrão de vida, é preciso considerar essas variáveis. É importante definir metas e um orçamento com base em projeções financeiras, além de manter uma comunicação aberta com clientes e fornecedores sobre as expectativas e metas para o próximo ano.
Júlio Rossato