SAFs: Futebol e Mercado de Capitais
Uma nova onda de acesso do futebol ao mercado de capitais pode estar em curso. A relação de clubes tradicionais com a Faria Lima já teve flertes mais ou menos prósperos, e o modelo de Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) é um elemento que pode mudar o jogo.
Nos últimos meses, foram duas sinalizações de aproximação: no início de outubro, o São Paulo Futebol Clube anunciou que a Galapagos Capital e a OutField irão estruturar um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) para reperfilar sua dívida. Poucos dias antes, o Clube Atlético Mineiro anunciou a primeira emissão das chamadas debêntures-fut desde a aprovação da Lei das SAFs. O Galo disputa neste domingo (10) a finalíssima da Copa do Brasil contra o Flamengo, na Arena MRV, a partir das 16h.
Alternativas restritas de crédito
Com alternativas restritas de acesso a crédito, clubes de futebol muitas vezes precisam se expor a dívidas de juros altos e curto prazo para se financiar. O São Paulo, cujo fundo pretende reperfilar as obrigações com bancos que hoje ultrapassam R$ 200 milhões, usa recebíveis relacionados a negociações de direitos de transmissão, naming rights e patrocínios.
O papel das SAFs
Para Pedro Daniel, da Ernst & Young, o caso do tricolor paulista pode se tratar de uma exceção em um cenário no qual clubes no modelo SAF devem ter mais facilidade em acessar opções de financiamento direto. O São Paulo não é SAF, e, sim, uma associação. Um elemento que contribui para sua avaliação é a própria figura dos acionistas na SAF, com capital comprometido e certa representatividade frente aos credores. Além do mais, diferentemente das gestões de modelos associativos, SAFs não estão sujeitas a eleições, o que aumenta a confiança de credores em financiamentos para mais longo prazo.
Regulamentação ainda incipiente
Um arcabouço regulatório ainda incipiente pode dificultar as operações. “É pouco provável que vejamos, no primeiro momento, os bancos de primeira linha fazendo grandes projetos no setor. Falta infraestrutura financeira, uma regulação mais robusta que mitiga o risco, principalmente para esses bancos”, diz Pedro Daniel. Em agosto de 2023, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), emitiu um parecer orientando sobre possibilidades das SAFs no mercado de capitais.
Clube Atlético Mineiro
O Atlético Mineiro foi o primeiro clube a emitir debêntures-fut. O clube mineiro viu sua dívida líquida cair de R$ 2,1 bilhões para R$ 1,3 bilhão em 2023, após aportes dos acionistas no processo de migração para uma SAF. Parte das obrigações contraídas pelo Galo nos últimos anos eram justamente com alguns dos sócios.
Júlio Rossato