Economistas esperam sinais consistentes do governo para controle das contas públicas
O governo ainda não apresentou o pacote de corte de gastos que pretende reforçar o arcabouço fiscal, mas economistas com experiência na administração pública já afirmam que divulgar as medidas de ajuste é apenas um primeiro passo. Para Caio Megale, economista-chefe da XP, serão necessárias sinalizações mais claras e consistentes do comprometimento de todos os nomes do governo com o controle das contas públicas.
“A dinâmica do pacote de gastos é importante, mas os sinais são importantes e precisam ser consistentes”, diz Megale. “Quando o presidente chamou o ministro para discutir o pacote e impediu a viagem dele para a Europa, isso foi um sinal. Chamou outros ministros para discutir a proposta, outro sinal. Tudo isso foi animando o mercado, até que se passaram quatro semanas e nada saiu. Tudo isso passa uma mensagem.”
Segundo o economista, as variáveis econômicas estão fora do lugar: juro real, câmbio, crescimento das despesas, e é necessário ajustar esses parâmetros para que os próprios mecanismos da economia não se ajustem por meio de inflação.
“Se esse pacote for seguido de declarações no sentido de maior controle fiscal por parte de todo o governo, se não for um pacote isolado, é um evento positivo”, diz Almeida. “Mas tem que ser um compromisso de todo o governo para não aumentar subsídios, não criar pacotes fora do orçamento, manter sinalizações consistentes de compromisso fiscal.”
Projeção de economia de até R$ 70 bilhões
Após semanas de discussões com diferentes ministérios do governo, a projeção é de que o pacote resulte em uma economia de até R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. Para isso, algumas das medidas que circularam no Planalto apontam para mudanças no reajuste do salário mínimo; um pente-fino no BPC e no Bolsa Família; corte na previdência de militares; uma nova regra para o abono salarial e o fim dos supersalários dos servidores públicos.
Ambos os economistas veem as medidas como de curto prazo e acreditam não ser um pacote suficiente para mudar a trajetória de crescimento da dívida pública do Brasil, considerada o problema estrutural do país.
“Seja na renovação deste governo ou num próximo, após as eleições de 2026, cada vez fica mais claro que 2027 exigirá um ajuste fiscal mais duro e profundo”, diz Almeida.
Júlio Rossato