PF descobre que integrantes do Palácio do Planalto planejaram palavras de ordem para atos antidemocráticos
Após as eleições de 2022, unidades militares de todo o país se tornaram pontos de referência para atos antidemocráticos, com manifestantes pedindo para as Forças Armadas agirem contra o resultado do pleito presidencial.
Ao concluir o relatório da investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, a Polícia Federal (PF) descobriu que as palavras de ordem que estamparam faixas e cartazes dessas manifestações foram pensadas por integrantes do próprio Palácio do Planalto.
Na última quinta-feira (21), a corporação indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas pela suposta trama golpista.
Os indiciados e os núcleos de atuação
A lista dos indiciados contém nomes que fizeram parte do alto escalão da gestão federal passada, como os ministros Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (GSI), além de aliados de confiança de Bolsonaro e militares de alta patente.
Detalhes sobre o planejamento das faixas
Uma conversa interceptada pela PF mostra que, no dia 7 de novembro de 2022, o general Mário Fernandes e o coronel George Hobert Oliveira Lisboa planejaram o conteúdo de faixas que seriam utilizadas nos atos antidemocráticos.
Um documento compartilhado entre os militares intitulado como “Faixas” contém frases inscritas em retângulos com dizeres como “LIBERDADE SIM, CENSURA NÃO”, “NÃO Á (sic) DITADURA DO JUDICIÁRIO” e “ILEGIBILIDADE DO LULA JÁ”.
O arquivo também conta com apelos para uma “contagem pública dos votos” e para a realização de “novas eleições para presidente”. “Salve nossa democracia”, diz um pedido redigido em três versões aos militares Freire Gomes, Almir Garnier e Baptista Júnior, à época dos fatos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, respectivamente.
Da conversa entre George Hobert e Mário Fernandes, também foram interceptados detalhes sobre a elaboração de um flyer para convocar manifestantes a estarem na frente dos quartéis. Foi apreendida a imagem de um croqui do folheto e uma montagem do flyer já elaborado.
Contexto e acusações
Segundo a PF, o planejamento da fuga começou a ser discutido após as manifestações de 7 de setembro de 2021, em Brasília (DF) e São Paulo (SP), nas quais Bolsonaro fez ameaças ao STF e questionou urnas.
“O grupo investigado, liderado por Jair Bolsonaro, à época presidente da República, criou, desenvolveu e disseminou a narrativa falsa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do País desde o ano de 2019, com o objetivo de sedimentar na população a falsa realidade de fraude eleitoral”, diz o relatório ao indiciar o ex-presidente. Incitados por essa falsa realidade, segundo a PF, os seguidores do então mandatário seriam estimulados a “‘resistirem’ na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe de Estado”.
Em entrevista na segunda-feira (25), Bolsonaro rechaçou que tenha cogitado dar um golpe e disse que, após a derrota eleitoral, pensou nas “medidas possíveis”, mas “dentro das quatro linhas”.
O advogado Raul Livino, responsável pela defesa de Mário Fernandes, afirmou que ainda não teve acesso ao inquérito e que considera a prisão cautelar do general despropositada.
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Tags:Polícia Federal, Jair Bolsonaro, Planalto, golpe, faixas, manifestações
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Júlio Rossato