Dólar ainda não alcançou máximas históricas ajustadas pela inflação, apontam especialistas
A percepção do valor do dólar sempre gera debates acalorados entre economistas e investidores, especialmente em tempos de flutuações cambiais expressivas como na última semana, que chegou a custar R$ 6 pela primeira vez desde o início de sua circulação, em 1994, com o mercado reagindo negativamente ao anúncio do pacote de contenção de gastos pelo governo.
Embora a moeda americana tenha se mantido elevada em relação ao real nos últimos anos, alguns especialistas apontam que, quando ajustado pela inflação, o dólar ainda não alcançou suas máximas históricas. De acordo com análise do consultor de dados financeiros Einar Rivero, o dólar precisaria estar próximo de R$ 7,50 para refletir um pico real comparável ao passado.
Análise da Elos Ayta
Uma análise da Elos Ayta feita por Rivero ajustou o dólar Ptax pela inflação brasileira (IPCA) e americana (CPI-U), revelando que o pico de setembro de 2002, corrigido pela inflação, chegaria a R$ 8,75, comparado aos atuais R$ 5,80 registrados nos últimos dias.
Importância de monitorar o câmbio nominal e os ajustes teóricos
O cálculo, fundamentado na paridade do poder de compra (PPC), foca na inflação acumulada e exclui fatores como juros, reservas internacionais e fluxo de capitais, indicando que o real está mais valorizado do que o ajuste sugere. Embora o valor nominal atual esteja entre os mais altos já registrados, o ajuste inflacionário aponta espaço para mais valorização. Isso reforça a importância de monitorar tanto o câmbio nominal quanto os ajustes teóricos para entender as dinâmicas econômicas.
O valor real do dólar
Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, explica que o “valor real” do dólar é ajustado levando em conta as taxas de inflação acumuladas no Brasil e nos Estados Unidos desde um ponto de referência histórico. “Se a inflação nos Estados Unidos for menor que a inflação no Brasil, o poder de compra relativo do dólar aumenta. Esse cálculo reflete quanto o dólar deveria valer hoje, considerando o efeito inflacionário em ambas as economias”, esclarece Gusmão. Assim, apesar de o dólar estar cotado abaixo de R$ 7,50, o valor nominal atual pode não ser suficiente para representar as máximas históricas em termos reais.
Cenário doméstico e internacional
Segundo Gusmão, uma combinação de fatores internos e externos seria necessária para que o dólar atingisse esse patamar. No cenário doméstico, instabilidade política, deterioração fiscal e aumento do risco-país podem contribuir para uma desvalorização acentuada do real. Já no âmbito internacional, choques externos como uma alta significativa nos juros dos Estados Unidos ou tensões geopolíticas poderiam intensificar a aversão ao risco global, elevando a demanda pelo dólar como ativo de refúgio.
O impacto de um dólar a R$ 7,50 para a economia brasileira
Contudo, um dólar a R$ 7,50 traria graves consequências para a economia brasileira. “Esse nível geraria pressão inflacionária, aumento no custo de importações e desvalorização do poder de compra, afetando diretamente setores dependentes de insumos externos”, ressalta o diretor da Ourominas. Apesar de setores exportadores poderem se beneficiar, o saldo líquido seria negativo, com retração econômica e aumento das desigualdades.
Dificuldade de determinar o valor ideal de câmbio
Alex Agostini, Economista-chefe da Austin Rating, menciona que, para ele, a máxima histórica do dólar foi de R$ 8,22, registrada em setembro de 2002 durante a crise eleitoral. “Esse é o valor real que calculo, considerando a inflação dos EUA e do Brasil”, explica Agostini. Para Agostini, não existe um valor ideal de câmbio, porque cada setor da economia tem uma necessidade diferente. Para exportadores, um câmbio mais alto é vantajoso, enquanto para importadores, um câmbio mais baixo é desejável.