Líder rebelde lidera ofensiva contra Assad
Abu Mohammad al-Golani, líder do grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS), emergiu como a figura central na ofensiva que resultou na queda do regime de Bashar al-Assad após 13 anos de guerra civil na Síria.
Aos 42 anos, Al-Golani liderou um avanço relâmpago que culminou na fuga do presidente sírio para a Rússia e na tomada de Damasco, transformando-se em um dos nomes mais importantes no cenário político do Oriente Médio.
Ascensão de Al-Golani
Nascido como Ahmed Hussein al-Shara na Arábia Saudita, em uma família de exilados sírios, Al-Golani retornou ao país de origem ainda jovem. Em 2003, viajou ao Iraque para se unir à Al-Qaeda e combater a ocupação americana, ganhando experiência militar e estratégica em anos de combate. Durante esse período, ele foi preso várias vezes pelas forças americanas, mas continuou a atuar na insurgência iraquiana.
Com o início da guerra civil na Síria, em 2011, Al-Golani foi enviado ao país por Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico do Iraque, para fundar a Frente Nusra, braço da Al-Qaeda na Síria. O grupo rapidamente se tornou um dos mais influentes na oposição a Assad, consolidando sua posição no conflito armado.
Em 2013, Al-Golani desafiou ordens de Baghdadi para fundir a Frente Nusra com o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), uma decisão que marcou o início de um afastamento progressivo entre os dois grupos.
Ele declarou lealdade à Al-Qaeda, mas em 2016 rompeu formalmente os laços e renomeou a Frente Nusra como Jabhat Fateh al-Sham, uma tentativa de reposicionar sua organização no cenário internacional. Em 2017, o grupo foi novamente reorganizado como HTS, consolidando o controle sobre a província de Idlib.
Consolidação do poder
Al-Golani utilizou sua liderança para eliminar concorrentes dentro da oposição armada síria, inclusive enfrentando o ISIS, e consolidou o HTS como a principal força rebelde no país. Essa trajetória evidenciou sua capacidade de manobra entre organizações extremistas e o sucesso em estabelecer controle territorial.
No final de novembro de 2024, o HTS liderou um ataque coordenado que rapidamente tomou Alepo, maior cidade da Síria, antes de avançar sobre Damasco. A ofensiva encontrou pouca resistência, forçando Assad a fugir do país no domingo (8). Desde então, Al-Golani emergiu como o principal ator político e militar no cenário sírio, com os rebeldes celebrando a “libertação” da capital.
Dúvidas sobre o futuro
Apesar de seu sucesso no campo de batalha, Al-Golani enfrenta dúvidas sobre o tipo de governo que implementará e se poderá conquistar apoio suficiente entre os sírios, especialmente minorias étnicas e religiosas. Enquanto seu discurso público sugere uma abordagem mais pragmática e pluralista, seu histórico como líder da Frente Nusra e suas conexões com a Al-Qaeda geram ceticismo dentro e fora do país.
(Com The New York Times, CNN e The Washington Post)
Júlio Rossato