Descrença no governo
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central de 1999 a 2003, avalia que, desde o início do ano, o governo vem sofrendo uma descrença muito grande por conta de não assumir uma responsabilidade fiscal sustentável.
“Foi um descrédito crescente que aconteceu ao longo de 2024, gerando uma percepção negativa do que ia ocorrer com a dívida pública. Essa política (econômica) é muito expansionista”, afirma.
Preocupações fiscais e decisão do Fed abalam mercado doméstico
Investidores repercutiram decisão de política monetária do Fed, que sinalizou menores cortes de juros à frente.
Segundo Figueiredo, a percepção de que as coisas tinham certo equilíbrio foi por “água abaixo”, além do pacote ter sido mal recebido por associação também com aumento da faixa de isenção de imposto de renda.
“Acho que toda situação muito dramática acaba tendo reação. O governo, no fim, acabou reagindo muito mal, diga-se de passagem. Acho que muito provavelmente ele vai reagir de novo. Pode ser que seja tarde ou menos do que precisa”, diz.
Economia real
“Mas não estou muito pessimista que nós vamos para o buraco. Acho que nós vamos ter um declínio gradual, só que os ativos já descontaram muito do que pode acontecer. Os ativos estão esperando o caos, mas se o caos não comparecer, talvez não estejam mal assim. O Brasil, muitas vezes, quando chega perto do precipício, ele volta.”
“No ano que vem nós vamos ter provavelmente uma piora da economia real, bem menos atividade, a inflação não se sabe o que pode acontecer, mas o Banco Central está muito duro. O governo vai responder de alguma maneira – é bem possível isso”, avalia.
Reflexão
Samer Serhan vê também o momento com menos pessimismo. “O cenário é de que a gente esticou demais a corda e perdeu um pouco de fundamento no geral. É bom as pessoas pararem para dar uma refletida”, diz.
O ex-diretor do Banco Central acha que desde o início de 2023 o governo vinha com uma narrativa “muito ruim principalmente em relação ao fiscal”.
Mas ele considera que ao longo do ano passado o governo “conseguiu mudar para um ambiente muito mais favorável”, principalmente por conta do avanço do PIB.
“O Banco Central conseguiu começar a reduzir os juros em agosto (de 2023) e foi um rali dos mercados espetacular”, cita.
Mas esse ano, ele acha que a “confusão” foi se estabelecendo, criando uma situação insustentável agora.
Júlio Rossato