A Ilha das Cobras
A Ilha da Queimada Grande, situada a cerca de 35 km da costa de Itanhaém, em São Paulo, é famosa mundialmente pelo apelido de “Ilha das Cobras”. Com uma área de aproximadamente 43 hectares, a ilha é reconhecida por abrigar uma das maiores densidades de serpentes venenosas do planeta. Estima-se que cerca de 15 mil exemplares da jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) vivam no local, cuja entrada é restrita e proibida ao público em geral.
O biólogo Eric Comin disse que já visitou a unidade de conservação algumas vezes e admite: não desembarcaria mais no local. “São muitas serpentes. A partir do momento que você começa a subir a mata, que é fechada, para onde você olha, vê algumas serpentes. Em cima, no tronco [sobre] sua cabeça, ao lado, só que elas são extremamente tranquilas”, disse.
Características da jararaca-ilhoa
Devido ao isolamento da ilha, que teria se separado do continente há cerca de 10 a 11 mil anos, a jararaca-ilhoa desenvolveu características únicas, diferenciando-se das jararacas continentais (Bothrops jararaca). As adaptações incluem uma coloração amarelada e um tamanho ligeiramente menor, variando entre 0,5 e 1 metro. Entretanto, o Instituto Butantan aponta que essa espécie pode atingir até 2 metros de comprimento.
A jararaca-ilhoa adapta-se à escassez de presas terrestres na ilha e caça principalmente aves migratórias que pousam no local. Sua habilidade de viver em árvores permite que ela alcance essas presas facilmente. Além disso, o veneno da jararaca-ilhoa evoluiu para ser altamente potente, sendo estimado em até 20 vezes mais tóxico do que o veneno de jararacas comuns. Em casos de picadas em humanos, o veneno pode ser letal em até seis horas, destacando a eficácia dessa adaptação para capturar suas presas.
Exploração e estudos
A história da Ilha da Queimada Grande remonta a 1532, quando foi mencionada durante a expedição do militar português Martim Afonso de Souza. Desde 1985, a ilha é protegida como Unidade de Conservação Federal e é estudada pelo Instituto Butantan desde 1911, com o objetivo de desvendar os mistérios biológicos e farmacológicos dessa serpente única. Esses estudos exploram a possibilidade de uso do veneno em aplicações medicinais, dada sua alta potência e especificidade. Além da jararaca-ilhoa, a ilha também abriga a jararaca-dormideira (Dipsas mikanii), que contribui para a biodiversidade do local.
Júlio Rossato