Novo presidente do Banco Central do Brasil traz desafios para a instituição
O novo presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, irá assumir o cargo na quarta-feira, após meses de atritos públicos entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Galípolo já defendeu visões econômicas que agradam a políticos de esquerda, o que pode testar a nova independência formal da instituição e trazer preocupações sobre mudanças na política monetária. Enquanto sua proximidade com Lula deve acalmar o ambiente após meses de críticas do presidente, ela também pode preocupar alguns investidores.
A transição será acompanhada de perto, especialmente após a frustração com um aguardado pacote de gastos do governo ter provocado um colapso no mercado, fazendo o prêmio de risco do Brasil disparar e levando o dólar a recordes históricos. Todas as decisões do Copom foram unânimes de maio para cá, incluindo a alta de 1 ponto percentual em dezembro, acompanhada de uma surpreendente sinalização de novos aumentos de igual tamanho em janeiro e março de 2025.
Relação com Lula
Galípolo, que atualmente é diretor de política monetária da autarquia, participou de uma coletiva com Campos Neto em 19 de dezembro, na qual minimizaram diferenças e prometeram continuidade. Um dia depois, Lula elogiou Galípolo em um vídeo nas redes sociais, prometendo disciplina fiscal e respeito à autonomia do BC. Persistem, contudo, preocupações sobre possíveis mudanças na política monetária, que ganharam corpo especialmente após a reunião do BC de maio, na qual Galípolo e outros três indicados por Lula votaram por um corte maior nos juros que a maioria indicada por Bolsonaro chancelou. A partir de janeiro, os indicados por Lula ocuparão sete dos nove assentos do Comitê de Política Monetária (Copom).
Desafios futuros
Ex-diretores do BC acreditam que o verdadeiro desafio para o BC de Galípolo virá quando o banco precisar manter sua postura dura para levar a inflação à meta num momento em que isso estiver visivelmente machucando a atividade, um ponto sensível para um governo de esquerda. No entanto, até agora, o futuro presidente do BC tem enfrentado poucos questionamentos por seu trânsito com Lula. Senadores de oposição elogiaram suas qualificações e a Comissão de Assuntos Econômicos da casa aprovou por unanimidade seu nome para o comando do BC.