América Latina: extremos de gastos governamentais
A América Latina está se tornando um campo de batalha de extremos de gastos governamentais, atraindo apelos de nações menores para que apertem o cinto antes que as consequências se espalhem pelas fronteiras.
No Brasil, os investidores correram em dezembro para vender títulos, ações e o real brasileiro, à medida que aumentavam as dúvidas sobre a disposição de Luiz Inácio Lula da Silva de reduzir um buraco fiscal crescente.
Paraguai busca política fiscal sustentável
O Ministro da Economia e Finanças do Paraguai, Carlos Fernandez, está entre esses dois extremos, onde seu país depende do comércio com a Argentina e com o Brasil. Em uma entrevista, Fernandez explicou por que a política fiscal sustentável é importante em uma região exposta à crise internacional.
“Eu o aplaudo porque ele vai direto à raiz do problema, que é fiscal”, disse Fernandez em referência ao programa de austeridade de Milei. O déficit do Brasil “não deixa muito espaço fiscal no caso de um choque externo que mereça uma resposta de política macroeconômica”.
Fernandez não está seguindo o ritmo histórico de austeridade de Milei, mas cortando os gastos com a folha de pagamento e aumentando a receita do governo por meio de melhores métodos de cobrança de impostos. Isso ajudou o Paraguai a reduzir o déficit fiscal do ano passado para 2,6% do produto interno bruto e busca limitar os déficits futuros a 1,5% até 2026, o que seria uma fração do buraco de 10% do qual o Brasil está lutando para sair.
América Latina pode sofrer com política fiscal desajustada
Em toda a América Latina, “se a política fiscal não for ajustada, a política monetária acaba se tornando mais rígida devido ao medo que os bancos centrais têm da inflação”, disse Fernandez.
O Paraguai, um país sem litoral com 6,1 milhões de habitantes, tinha uma das menores taxas de impostos em relação ao PIB da região, 14,7% em 2022, em comparação com 33% do Brasil, de acordo com um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Paraguai busca investimentos dos EUA
O presidente eleito Donald Trump nomeou pessoas com ampla experiência em políticas para a América Latina – Marco Rubio, Chris Landau e Mauricio Claver-Carone – para cargos de alto nível, em um sinal inicial de que o novo governo poderá se concentrar mais na região do que os governos anteriores dos EUA.
Enquanto o México e outras nações estão se preparando para as tarifas de Trump, Fernandez vê uma oportunidade para o Paraguai ganhar investimentos em “friend-shoring” – políticas dos EUA que incentivam as empresas a transferir a produção de estados autoritários para aliados – sob a administração de Trump.
O Paraguai tem um setor manufatureiro pequeno, mas em crescimento, cujas exportações ultrapassaram US$ 1 bilhão no ano passado, e é um dos poucos países que evitaram os laços diplomáticos com a China continental em favor do aliado dos EUA, Taiwan.
“Cabe a nós mostrar aos EUA por que o Paraguai é importante e, a partir daí, construir um relacionamento”, disse ele. O Paraguai precisa mostrar aos EUA que “podemos fazer parte do apoio aos amigos que eles estão promovendo”.
Júlio Rossato