Tarifas dos EUA afetam bolsas internacionais e Ibovespa no Brasil
A imposição de tarifas pelo governo norte-americano que derrubas as bolsas internacionais também afeta o Ibovespa na sessão desta segunda-feira, 3, a primeira de fevereiro. O quadro é de aversão a risco geral no exterior, tendo já começado na Ásia onde as bolsas cederam quase 3%. Aqui, o dólar avança e os juros futuros cedem, ajudando em parte algumas ações de empresas exportadoras e mais sensíveis ao ciclo econômico, respectivamente.
Na visão do economista Arend Kapteyn, do UBS, o anúncio das tarifas “deixa as perspectivas significativamente nubladas”, com potencial de reduzir o crescimento dos Estados Unidos e provocar danos econômicos significativos aos outros três países, conforme relatório enviado a clientes.
Principais índices em Nova York apresentem fortes baixas com as tarifas dos EUA
Segundo economista-chefe da XP, cenário mudou radicalmente após o final de semana, com anúncio de Trump de aumentar tarifa de importação de países vizinhos e da China.
Ao longo da semana, a agenda tem dados e eventos importantes que poderão mexer com os negócios, como a ata do Copom, início da temporada de balanços no Brasil e o payroll nos EUA.
Mercado brasileiro
Além de avaliar os desdobramentos da decisão – agora oficial – do presidente dos Estados Unidos de impor tarifas de 25% ao Canadá e ao México e de 10% à China, investidores no Brasil olham a nova rodada de piora no boletim Focus para IPCA e Selic, principalmente.
As atenções tendem a ficar nas pautas do governo que precisam avançar, como as fiscais. “Ruídos políticos tendem a se intensificar com a volta do Congresso”, estima Alvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec Brasil.
Contudo, para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, como Alcolumbre e Mota tiveram o apoio do governo, há expectativa de avanço nas pautas do Planalto que estão paradas. “Eles são mais pró-governo do que a gestão passada. O mercado vê isso como positivo”, avalia.
Impacto no Ibovespa
A tendência é que o Ibovespa siga o comportamento dos ativos internacionais, podendo perder parte da recuperação da semana passada, de 3,01%, conquistada “a duras penas”, avalia Bandeira.
Ainda assim, o recuo é inferior ao visto no exterior, dado em parte à expectativa de avanço na agenda do Executivo e também porque o Brasil não deve ser afetado diretamente, por ora, pelo tarifaço imposto por Trump.
“O País ainda não foi lembrado, mas se houver aplicação de tarifas sobre aço, vai afetar”, estima Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos. Segundo ele, o governo americano pode ainda intensificar as medidas tarifárias e, além disso, há temores relacionados à pretensão dos EUA de deixar de apoiar a agência de ajuda humanitária.
Ações na bolsa
Petrobras perdia entre 0,21% (PETR4;PN) e 0,74% (PETR3;ON), apesar da alta do petróleo, enquanto Vale (VALE3) recuava 0,42%, mas Gerdau (GGBR4) subia 1,68% e Gerdau Metalúrgica (GOAU4), 1,29%. Outras ações ligadas ao dólar são destaques de alta, caso de JBS (JBSS3) com 2,45%, e relacionadas ao consumo: Natura (NTCO3;2,06%) e Automob (AMOB3;3,23%).
Expectativas para o mercado
O Ibovespa fechou em baixa de 0,61%, aos 126.134,94 pontos, com ganhos de 4,86% em janeiro. Às 11h27 desta segunda-feira, o Ibovespa caía 0,17%, aos 125.914,68 pontos.
Luis Otávio, Head de Corporate e Mercado de Capitais do Grupo SWM, atribui a relativa tranquilidade do Ibovespa a uma combinação de fatores técnicos e conjunturais que favorecem o mercado local.
“A posição técnica do mercado está bem favorável, com um ambiente mais “leve” e sem grandes pressões de venda, o que facilita a absorção de choques externos. Além disso, temos observado desde o início do ano um fluxo de capital estrangeiro direcionado para mercados emergentes, sobretudo para o Brasil, que conta com empresas negociando em níveis atrativos de valuation, tornando o mercado doméstico mais convidativo para investidores em busca de oportunidades.
Nos últimos anos, o México, em razão da sua proximidade com a economia americana, vinha sendo o principal destino desses fluxos. Contudo, com as incertezas geradas pela política externa de Trump, uma parte desse capital pode estar sendo redirecionada para o Brasil”, avalia.
Júlio Rossato