Alta nas Taxas dos DIs no Brasil
As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira com alta firme no Brasil, com parte dos investidores ajustando posições após o Copom para uma possível elevação de 75 pontos-base da Selic em maio — e não de 50 pontos-base ou menos, como muitos agentes vinham precificando antes.
A alta das taxas foi intensificada pela disparada de várias ordens de stop loss (parada de perdas) ao longo da curva a termo, além do movimento de realização de lucros de alguns investidores, após os recuos recentes dos prêmios.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 — um dos mais líquidos no curto prazo — estava em 14,87%, ante o ajuste de 14,709% da sessão anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 marcava 14,645%, ante o ajuste de 14,398%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 14,56%, ante 14,292% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,59%, ante 14,333%.
Elevação da Selic e Perspectivas para Maio
Na noite de quinta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica Selic em 100 pontos-base, para 14,25% ao ano, e indicou a intenção de promover novo aumento em maio — desta vez, de menos de 100 pontos-base. Em sua justificativa para o guidance, o BC citou o cenário ainda adverso para a inflação, a elevada incerteza e o efeito defasado da elevação dos juros sobre os preços.
Na prática, na visão do mercado, o comunicado do Copom consolidou três possibilidades para maio: aumento de 25, 50 ou 75 pontos-base.
Impacto no Mercado Financeiro
Para alguns analistas ouvidos pela Reuters na noite de quarta-feira, o fato de o mercado estar em grande parte posicionado em 50 pontos-base — o “meio do caminho” — antes mesmo da decisão do Copom deixava pouco espaço para ajustes nesta quinta-feira. Mas não foi o que se viu.
Um operador da mesa de renda fixa de um banco de investimentos afirmou que agentes que estavam posicionados em altas menores da Selic — de 25 ou 50 pontos-base — se reposicionaram nos 75 pontos-base nesta quinta-feira.
Outro profissional de banco resumiu o movimento afirmando que “saiu o zero e entrou o 75 no jogo” — referência ao fato de que, após o Copom, quem estava precificando alta nenhuma da Selic em maio fechou posição, enquanto as apostas em 75 pontos-base cresceram.
Parecer Final do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2025
O mercado também se manteve atento à apresentação e tramitação, no Congresso, do parecer final do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2025. O texto previu um superávit primário de R$15 bilhões nas contas do governo federal, ante a proposta original do Executivo que apontava para saldo positivo de R$3,7 bilhões.
A meta de resultado primário de 2025 é de déficit zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB), equivalente a R$31 bilhões para mais ou para menos.
Sinais Preocupantes e Perspectivas Econômicas
Para o head de renda fixa da Manchester Investimentos, Rafael Sueishi, apesar da previsão de superávit, a proposta trouxe alguns sinais preocupantes, como a perspectiva de elevação dos gastos previdenciários.
No parecer final, foram incluídos aumentos de R$8,3 bilhões em gastos previdenciários e de R$3 bilhões para o programa auxílio gás.
Em entrevista pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender a ideia de que o Brasil não precisa passar por uma recessão econômica para baixar a inflação ou controlar as contas públicas.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries se mantinham em baixa no fim da tarde, após o Federal Reserve ter mantido, na véspera, sua taxa de juros na faixa entre 4,25% e 4,50%. Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — caía 3 pontos-base, a 4,229%.
Júlio Rossato