Alerta sobre Jejum Intermitente: Estudo da USP
O jejum intermitente é frequentemente apontado como uma solução eficaz para a perda de peso e o controle de doenças metabólicas. No entanto, um recente estudo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) traz um alerta importante: a prática pode aumentar o risco de compulsão alimentar e desejos intensos por comida, especialmente entre jovens universitários. A pesquisa analisou 458 estudantes da USP e identificou que aqueles que praticavam jejum intermitente apresentavam níveis significativamente maiores de compulsão alimentar. Além disso, foi constatado que quanto maior o tempo de jejum, maior era o desejo por comida, o que pode levar a um ciclo de restrição e descontrole alimentar. A intencionalidade por trás do jejum é um fator-chave para seu impacto emocional e comportamental, segundo Oliveira. A pesquisa indica que a prática pode agravar sintomas de compulsão, comprometendo não apenas a relação do indivíduo com a alimentação, mas também sua saúde mental.
O autor do estudo explica que o jejum costuma ser adotado por quem já tentou mudar o corpo por meio de dietas restritivas e que o problema é que essas estratégias podem desencadear um padrão alimentar desordenado. Apesar do estudo ter sido realizado com universitários, o pesquisador observa que os resultados “podem ser extrapolados parcialmente para pessoas em condições de estresse do trabalho” – como os profissionais que trabalham no mercado financeiro, por exemplo, que também podem ser afetados de um jeito semelhante. Por isso, ele ressalta a importância de “impor limites saudáveis”, o que na alimentação significa se alimentar conforme as necessidades físicas, mais do que somente emocionais, sem usar a comida como “fonte de recompensa” após um dia estressante.
Apesar da popularidade do jejum intermitente, entidades relacionadas à área pedem cautela. A Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) destaca que ainda faltam estudos de longo prazo que comprovem sua eficácia em comparação a dietas convencionais de restrição calórica contínua. De acordo com Oliveira, da USP, “não há recomendação médica oficial corroborada por boas pesquisas e ensaios clínicos de qualidade que sustente a prática de jejum intermitente”.
Por outro lado, a médica metabologista Elaine Dias, PhD em endocrinologia pela USP, aponta que há formas de aplicar o jejum intermitente sem prejuízos. Segundo ela, o chamado “jejum fisiológico” – que consiste em pular o jantar e reforçar o café da manhã – pode trazer benefícios para pessoas com resistência insulínica, desde que seja feito sob supervisão médica. Ela alerta que ficar longos períodos sem comer – especialmente ao longo do dia – pode causar hipoglicemia, tontura, perda de músculo e alterações hormonais. Para este perfil de público geralmente a indicação é do jejum intermitente fisiológico, que dá preferência por tirar o jantar e não o café da manhã.
Seja para perder peso ou melhorar indicadores metabólicos, especialistas recomendam que qualquer estratégia alimentar seja personalizada e acompanhada por profissionais habilitados. Além disso, exames regulares são fundamentais para monitorar deficiências nutricionais e evitar impactos negativos. “Não adianta fazer jejum intermitente e, na janela de alimentação, consumir só alimentos ultraprocessados. A regra deve ser descascar mais e desembalar menos”, reforça a metabologista.
Júlio Rossato