A Importância da Geopolítica nos Investimentos Globais
Para muitos investidores, acompanhar os gráficos e indicadores econômicos é suficiente para tomar decisões. No entanto, para Ivan Barbosa, gestor da Ártica, o cenário geopolítico é um fator essencial na análise de investimentos globais. Durante sua participação no programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo e Henrique Esteter, Barbosa destacou como eventos políticos e históricos influenciam diretamente os mercados financeiros e podem determinar o sucesso ou fracasso de uma estratégia de investimento.
Barbosa enfatizou que, enquanto investidores americanos frequentemente ignoram o contexto macroeconômico e geopolítico, confiando no mantra “never bet against America”, essa abordagem não pode ser aplicada de forma generalizada a outros países. “É muito difícil falar ‘never bet against Brazil’ ou ‘never bet against Russia'”, afirmou, citando as incertezas e riscos que variam conforme a região.
Um exemplo claro das consequências de ignorar a geopolítica foi a Revolução Socialista na Rússia, que resultou no fechamento da bolsa de valores e na estatização de 100% dos negócios. “Se você tinha dinheiro na Bolsa Russa naquela época, perdeu tudo”, explicou Barbosa, ressaltando a importância de avaliar os riscos políticos antes de alocar capital.
O gestor também abordou como a atual organização geopolítica do mundo foi moldada após a Segunda Guerra Mundial. No período pós-guerra, a Europa estava devastada, e os Estados Unidos assumiram a liderança na reconstrução do continente, ao mesmo tempo em que buscavam conter a influência do comunismo, promovido pela União Soviética.
Uma das principais decisões que emergiram desse período foi o Acordo de Bretton Woods, que estabeleceu o dólar como moeda de referência internacional. Antes disso, a maioria das moedas era lastreada em ouro.
Outro fator crítico na formação da economia global foi o compromisso dos EUA em garantir a segurança das rotas marítimas. Antes desse acordo, o comércio internacional era afetado por ataques de piratas e ações militares de nações inimigas. “Os Estados Unidos construíram a marinha mais poderosa do mundo para proteger os mares internacionais e garantir que o comércio pudesse fluir livremente”, explicou Barbosa.
Com essa iniciativa, os EUA também abriram seu mercado para permitir que economias fragilizadas, como a europeia e a asiática, pudessem se recuperar e se desenvolver. Essa política ajudou a China a emergir como uma potência econômica, visto que seu crescimento foi impulsionado pela demanda do mercado americano.
Com a queda da União Soviética e o colapso do comunismo como modelo econômico viável, os mercados globais passaram por uma nova transformação. “Hoje, não existe mais a lógica econômica comunista. A Rússia e a China abriram seus mercados e adotaram práticas capitalistas, mesmo que não se rotulem como tal”, afirmou Barbosa.
Esse período também levou à criação de organizações globais como a ONU e a OTAN, que foram estruturadas para manter a estabilidade internacional. Os Estados Unidos, ao contrário de impérios anteriores, optaram por criar uma governança global mais participativa, onde outros países têm voz, ainda que os maiores atores mantenham maior influência.
O grande aprendizado, segundo Barbosa, é que o investidor precisa entender a história e a dinâmica geopolítica antes de tomar decisões. “Estudar o que aconteceu no passado nos ajuda a compreender os riscos do presente”, concluiu.
Júlio Rossato