EUA apresentam plano de tarifas comerciais
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresenta nesta quarta-feira (2) o plano de tarifas comerciais mais abrangente em um século. Batizado de “Dia da Libertação”, o pacote prevê a aplicação de tarifas recíprocas a todos os países que, segundo o governo americano, impõem barreiras desproporcionais aos produtos dos EUA.
Com a proposta, que representa uma ruptura com o sistema multilateral de comércio promovido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que garante tratamento igualitário entre os países, os EUA passarão a retaliar tarifas caso a caso, com base no que cada nação cobra dos produtos americanos.
Possíveis impactos no Brasil e no mundo
O conceito de “tarifa recíproca” parte do princípio de equiparar os encargos: se o país A cobra 15% sobre um produto americano, os EUA aplicarão os mesmos 15% sobre o produto equivalente vindo desse país. No entanto, essa lógica ignora aspectos técnicos do comércio internacional e desconsidera compromissos firmados em acordos multilaterais. Para muitos analistas, esse modelo abre espaço para discricionariedade política e acirramento de disputas comerciais.
A lista de possíveis alvos inclui a China, União Europeia, México, Canadá, Brasil, Japão e Coreia do Sul. A China já enfrenta sobretaxas generalizadas, enquanto México e Canadá lidam com tarifas sobre aço, alumínio e automóveis. Para países com tarifas médias de importação mais elevadas, como o Brasil, há maior risco de retaliação.
De forma direta, o impacto sobre o comércio brasileiro deve ser relativamente limitado no curto prazo, como apontam economistas do Bradesco e Otaviano Canuto (ex-FMI e Banco Mundial). Isso porque os setores brasileiros mais expostos — como aeronaves, aço e petróleo — não estão entre os principais alvos neste primeiro momento.
Impacto no Brasil e possíveis cenários
De acordo com Otaviano Canuto, o principal risco para o Brasil está no canal financeiro. As tarifas devem elevar a inflação nos EUA, o que pode forçar o Federal Reserve (Fed) a manter juros mais altos por mais tempo. Isso tende a pressionar o real, encarecer o crédito e limitar o espaço para cortes de juros no Brasil.
Em 2024, os EUA foram destino de 12% das exportações brasileiras, com destaque para petróleo, aço, aeronaves, café e celulose. Já nas importações, o Brasil depende dos EUA para motores, máquinas, aeronaves e combustíveis.
Trump sinalizou que está aberto a negociar exceções com países que demonstrarem interesse. O Brasil, segundo Alckmin, está disposto ao diálogo e não tem histórico recente de disputas comerciais com os EUA.