Impacto do Tarifaço de Trump nos Mercados Globais
Não demorou muito tempo para o mercado reagir ao tarifaço de Donald Trump anunciado na quarta-feira (2). A decisão de impor tarifas escalonadas sobre produtos de países com grandes déficits comerciais com os Estados Unidos desencadeou uma forte aversão ao risco nos mercados globais, sobretudo com o dólar.
Em meio ao temor de recessão, a moeda americana despencou 1,71%, sendo cotado a R$ 5,601, por volta das 13h20 (horário de Brasília), acompanhando a queda no rendimento dos títulos do Tesouro americano de dez anos e um mergulho das bolsas de valores ao redor do mundo. A desvalorização do câmbio desenha o pessimismo dos investidores, que já antecipam um cenário de estagnação econômica com inflação, o que aumenta a percepção de risco e dá fôlego a uma busca por ativos considerados mais seguros.
Especialistas dizem que, em vez de adotar uma política recíproca — em que os Estados Unidos aplicariam tarifas equivalentes às impostas por outros países —, o governo optou por tarifar produtos de regiões que mantêm grandes superávits comerciais com os EUA. Isso inclui, principalmente, nações da Ásia, como China, Vietnã e Taiwan, além de países europeus, como Alemanha e Irlanda.
Dessa forma, os produtos asiáticos passam a ter sobretaxas de até 30%, enquanto as tarifas para produtos europeus chegam a 20%. A América Latina, por sua vez, sofreu tarifas mais brandas, já que os Estados Unidos mantêm superávit comercial com grande parte dos países da região.
A tarifa universal de 10%, que exclui determinados produtos, entrará em vigor em 5 de abril, enquanto as taxas recíprocas mais altas para parceiros serão implementadas em 9 de abril. A China e a União Europeia prometeram responder com medidas retaliatórias.
Segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a medida é economicamente contraproducente e tende a provocar mais distorções do que ganhos. “A ideia de proteger a indústria americana pode acabar provocando estagflação: uma combinação de crescimento econômico baixo com alta inflação. Os custos de produção nos Estados Unidos são muito mais elevados do que na Ásia, e uma simples imposição tarifária não será capaz de reverter essa realidade”, afirma o especialista.
Ele ressalta que, em um cenário globalizado, muitas multinacionais que produzem na Ásia ou na Europa estão reconsiderando seus investimentos e planos de expansão, já que a mudança no regime tarifário aumenta o custo de produção e gera insegurança sobre a viabilidade econômica de manter operações fora dos Estados Unidos.
O Brasil, que foi taxado em 10%, foi relativamente poupado dessa política agressiva, recebendo as menores tarifas devido ao pequeno superávit comercial com os EUA. No entanto, especialistas dizem que o impacto indireto pode ser mais forte, especialmente para setores exportadores e cadeias produtivas que dependem de insumos importados.
As incertezas ainda devem dar a tônica e abalar as perspectivas de crescimento global, o que invariavelmente afeta as perspectivas de crescimento econômico para o país.
Além disso, entra nessa conta a preocupação com os reflexos no agronegócio brasileiro, que pode tanto ganhar competitividade em mercados asiáticos — caso a China e outros países optem por retaliar os Estados Unidos com tarifas sobre produtos agrícolas americanos — quanto sofrer com a redução da demanda global em um contexto de recessão.
Gala diz que apesar de um cenário momentâneo de apreciação do real frente ao dólar, impulsionado pela desvalorização da moeda americana, o Brasil permanece vulnerável às oscilações do comércio internacional e às decisões políticas externas que podem afetar diretamente sua economia.
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Júlio Rossato