Dólar à Vista Acumula Queda de Mais de 6% no Primeiro Trimestre
Após alcançar R$ 6,30, o dólar à vista já registra uma redução acima de 6% neste início de ano, operando abaixo de R$ 5,80. Grandes instituições financeiras e gestoras de recursos não esperam mais uma taxa de câmbio acima de R$ 6,00 em 2025. No entanto, analistas alertam que os desafios para a continuidade da recente valorização do real aumentaram.
Um cenário externo incerto, com possíveis impactos da desaceleração econômica dos EUA devido à guerra comercial, juntamente com preocupações políticas e fiscais domésticas, podem limitar o interesse pela moeda brasileira. Além disso, há dúvidas sobre o fluxo cambial, mesmo com o embarque da safra agrícola, e sobre a persistência da redução das posições compradas em dólar por investidores estrangeiros em derivativos cambiais.
O recuo do dólar no primeiro trimestre foi influenciado principalmente pelo cenário internacional. A postura menos agressiva de Donald Trump em relação às tarifas comerciais e a queda das empresas de tecnologia nos EUA questionaram a tese do excepcionalismo americano, levando a uma migração de capitais para outras regiões.
Analistas discutem as implicações dos anúncios do 'Dia da Libertação' feitos pelo presidente americano. Diversas empresas, como Oracle, Amazon e AppLovin, estão interessadas na compra de operações nos EUA. A percepção dos investidores mudou, favorecendo moedas emergentes e o euro no início deste ano, devido a estímulos na China, pacotes fiscais na Europa e uma distribuição mais ampla de investimentos globalmente.
Para os próximos meses, há incertezas sobre a continuidade da diversificação de carteiras. Moedas emergentes, como o real, podem ser impactadas por aversão ao risco se a guerra comercial resultar em desaceleração ou recessão nos EUA. A instabilidade persiste, com a expectativa de anúncio de tarifas recíprocas por Trump afetando as divisas latino-americanas.
O desmonte global de posições em dólar e a queda das bolsas em Nova York no primeiro trimestre refletem a busca por ativos desvalorizados. O Brasil viu saída de dólares, mas a valorização do real se manteve devido à redução das posições compradas em dólar por não residentes. O cenário político e fiscal brasileiro apresenta desafios, com incertezas sobre a reforma da renda e medidas consideradas populistas.
A expectativa é que o saldo comercial e o fluxo cambial melhorem com a exportação da safra, porém, dúvidas persistem sobre o fluxo financeiro e a internalização de recursos. Analistas alertam para os riscos políticos e fiscais, com possíveis impactos na bolsa e no câmbio brasileiros.
Embora o Banco Central sinalize continuidade do aperto monetário, com a taxa Selic podendo subir ainda mais, as incertezas sobre o cenário interno e externo mantêm uma postura neutra em relação ao real. A projeção atual é que o dólar encerre o ano em torno de R$ 6,00.
Júlio Rossato