Real tem desempenho positivo frente ao dólar após eleições americanas
A vitória de Donald Trump nas eleições americanas trouxe um cenário de maior volatilidade e incertezas para os mercados globais, com destaque para a dinâmica das moedas de países emergentes. O dólar, como esperado pelos mercados, se fortaleceu, mas o real brasileiro se comportou de maneira positivamente nesta quarta-feira (6), destacando-se entre as divisas emergentes com um desempenho relativamente mais forte.
O movimento também foi na contramão das outras moedas de países desenvolvidos. O índice DXY, que mede a força do dólar contra rivais fortes, subiu 1,60%, aos 105,088 pontos e ao maior nível desde 3 de julho.
Por que o real teve um desempenho positivo?
O diretor de câmbio da Ourominas, Elson Gusmão, explica que o real se destaca no atual cenário devido ao atrativo diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. A taxa de juros elevada no Brasil, frente à possível estabilização ou queda nas taxas norte-americanas, torna o real mais interessante para investidores em busca de retornos superiores em mercados emergentes.
Além disso, o real é uma moeda acessível, com um mercado de câmbio profundo e de fácil transação, o que facilita os movimentos de hedge e investimentos em busca de rentabilidade. Gusmão destaca que o real continua a atrair investidores globais em busca de rentabilidade em ativos emergentes, enquanto moedas como o peso mexicano podem não apresentar a mesma atratividade devido a juros mais baixos e exposição às políticas protecionistas dos EUA.
Jefferson Laatus, chefe-estrategista do Grupo Laatus, acrescenta que a expectativa de que o Brasil avançará nas reformas fiscais, somada a um possível tom mais hawkish do Comitê de Política Monetária (Copom), fortalece o apelo do carry trade no país. Em um cenário global de inflação crescente e uma política monetária mais moderada nos EUA, diz ele, o Brasil se apresenta como uma opção atrativa para investidores que buscam rentabilidade em ativos emergentes.
E o futuro?
No curto prazo, o cenário segue de dólar forte, que pressionará o real, mas o diferencial de juros ainda deve atrair investimentos. Em médio prazo, o desempenho do real dependerá de como o Brasil lida com ajustes fiscais e crescimento econômico. Com reformas, o real pode se manter competitivo, mas se o Fed elevar os juros, o real pode perder um pouco de atratividade mesmo com as reformas.
Investidores que buscam proteger seus portfólios da volatilidade política e econômica, especialmente em relação a políticas protecionistas nos EUA, têm utilizado o real como uma moeda de proteção. Esse movimento de “hedge”, dizem os especialistas, ajudou a manter o real relativamente forte, ao contrário de outras divisas emergentes, como o peso mexicano, que sofreram mais com a pressão do dólar forte e com as incertezas sobre as políticas econômicas de Trump.
Júlio Rossato