Cúpula do PT debate eleições municipais e relação com mercado financeiro em seminário nacional
O resultado nas eleições municipais e o arrefecimento na relação do governo Lula com o mercado financeiro embalaram os discursos da cúpula do PT no seminário nacional do partido, que está sendo realizado desde quinta-feira (5) em Brasília.
A série de encontros se encerra no sábado (7) com uma reunião do diretório nacional para decidir, entre outros temas, calendário e regras para a eleição interna, prevista para julho de 2025. Na última noite e durante essa sexta-feira, dirigentes, militantes e especialistas vêm debatendo temas caros ao partido.
Discursos sobre a área econômica
No palco ocupado por oito lideranças em destaque, vieram da presidente nacional, Gleisi Hoffmann, e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, os discursos mais duros sobre a área econômica. A dirigente chegou a citar a Argentina do ultraliberal Javier Milei ao criticar corte orçamentário em políticas públicas para aposentados.
A declaração vem num momento em que o governo e o Parlamento discutem promover mudanças nos critérios de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado para idosos e pessoas com deficiência.
“Se for para sacrificar aposentados, trabalhadores, a saúde, a educação, a própria economia do País em nome da ortodoxia fiscal como estamos vendo na Argentina, para que serviria o PT?”, discursou Gleisi, a última a falar na cerimônia de abertura do seminário.
“Se for para satisfazer a ganância insaciável do sistema financeiro, sufocando o País com juros estratosféricos, e assistindo impassivelmente a especulação com o câmbio, para que serviria o PT?”
Rui Costa, por sua vez, fez inicialmente um discurso cifrado, sugerindo haver uma concertação contra o governo Lula.
Pressão do mercado financeiro
Como pano de fundo para a pressão do mercado financeiro sobre o governo federal está a insatisfação com o pacote de corte de gastos, apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, junto do anúncio da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda. Operadores da “Faria Lima” avaliaram os cortes como tímidos e irritaram a cúpula petista.
Desempenho nas eleições municipais
O desempenho das eleições municipais também foi sentido nos discursos – e influencia diretamente a temática das mesas do seminário. Nesta sexta-feira, por exemplo, especialistas e filiados debateram “o novo mundo do trabalho” e “os desafios da comunicação” para o PT, pontos considerados sensíveis na reflexão interna do partido.
As menções à necessidade de voltar a dialogar com a base para ter um resultado melhor nas eleições de 2026 foram diversas.
A dificuldade em depender do campo progressista para reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 e aumentar as bancadas na Câmara e no Senado teve uma mudança de tom que já vinha se apresentando em conversas de bastidores.
Lideranças defendem cada vez mais apostar em aliados da direita moderada para conseguir fazer frente à força do bolsonarismo daqui a dois anos.
O Senado desponta como campo de disputa importante para o PT após ser objeto da cobiça bolsonarista para o próximo pleito.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou não participar presencialmente do seminário promovido pelo Partido dos Trabalhadores em Brasília porque, em sua avaliação, há muito o que aprender nos debates organizados sobre os problemas do governo e angústias da legenda.
Júlio Rossato