Dolarização da economia argentina ainda enfrenta desafios
A dolarização da economia argentina ainda é uma questão presente, mesmo após um ano de mandato de Javier Milei. Desde a desvalorização de 50% do peso argentino, Milei busca uma migração para o dólar, mas enfrenta desafios.
Uma das primeiras medidas de Milei foi a desvalorização do peso argentino como parte de uma estratégia para diminuir a inflação no país. Porém, seguida a desvalorização inicial, uma sequência de defasagens de 2% acontece todo mês. O governo deu um passo atrás ao perceber que uma abrupta substituição do peso como moeda corrente na economia não seria possível no curto prazo. No lugar, escolheu por uma abordagem batizada de “dolarização endógena”.
A “dolarização endógena”
A “dolarização endógena” é uma estratégia em que os próprios argentinos aportam suas reservas em moeda estrangeira na economia. Uma das medidas tomadas pelo governo foi permitir a regularização de até US$ 100 mil dólares por cidadão, antes não declarados, sem sofrer punições ou impostos adicionais. Essa foi a alternativa encontrada por um país que possui um estoque de dólares baixo e enfrenta desconfiança internacional, o que dificulta a venda de títulos na moeda americana.
Controle sobre a política monetária
Carla Beni, economista e professora da FGV, alerta que o conceito de dolarização se refere a uma eliminação total de uma moeda, nesse caso, o peso. Quando Milei prometeu fechar o Banco Central, o recado era de que seria dado um basta na emissão de moedas que alimentou o ciclo inflacionário. O efeito de não ter essa instituição, no entanto, é perder o controle sobre sua própria política monetária.
O futuro da economia argentina
Embora haja um estímulo para a dolarização da economia, acessar o dólar oficial ainda não é possível para a população argentina, sendo restrito às remessas. O chamado “cepo” cambial limita a compra de dólares para US$ 200 mensais por pessoas físicas, com imposto de 60% na conversão. Para as empresas, é impedida a transferência de dólares ao exterior, até mesmo para pagar dívidas com suas matrizes.
A avaliação é que a derrubada dos controles deva acontecer ainda no início do ano para evitar que eventuais volatilidades ressoem nas eleições parlamentares em outubro. O receio é de que uma queda do “cepo” leve à disparada na inflação.
Com uma inflação ainda elevada, a política monetária enfrenta um paradoxo: a Argentina está cara em dólares. Como as valorizações da moeda americana são marcadas em 2% ao mês, valor menor do que a inflação, o poder de compra de uma mesma quantidade de dólares não é equivalente ao peso, após o efeito inflacionário.
O futuro da economia argentina ainda é incerto, porém, espera-se que as medidas tomadas pelo governo possam mudar a situação atual.
Júlio Rossato