Índice de preços ao consumidor dos EUA em novembro traz sinais mistos
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em novembro trouxe mensagens um pouco mistas. O número principal, que mostrou uma alta de 0,31%, veio levemente acima das projeções, assim como o núcleo, mas a composição do indicador no mês foi considerada benigna pelos economistas.
Assim, o dado de inflação deve ter pouca influência na decisão de política monetária do Federal Reserve na semana que vem. A projeção majoritária continua sendo de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa dos Fed Funds.
Comportamento da inflação
Segundo os economistas, a visão que o mercado de trabalho continuará a ser fator a ser considerado com mais atenção pelo BC americano na reunião do dia 18. Mas o comportamento da inflação aponta que os encontros de 2025 do Fomc devem ser marcados por uma maior cautela, com a adoção de pausas nos cortes sendo a aposta mais citada.
Na opinião de Isadora Junqueira, economista da AZ Quest, os sinais em direção mista do CPI fortalecem essa previsão de uma visão de mais longo prazo incerta para a política de juros. Em novembro, ela destaca que os preços dos serviços tiveram um comportamento mais benigno, com os bens desempenhando um papel diferente, especialmente o vestuário e os carros usados.
Decisão do Fed
Sobre a decisão do Fed, a economista da AZ Quest diz que os números divulgados hoje corroboram com um corte de 25 pontos-base no dia 18, mas sugerem uma visão um pouco mais cautelosa da inflação para a frente.
Para André Valério, economista sênior do Inter, os destaques nessa divulgação foram uma alta mais intensa que o esperado em bens duráveis, por conta do preço de novos carros, enquanto os gastos com habitação desaceleraram frente a outubro, o que puxou para baixo o núcleo de serviços.
Expectativas
Na análise de Francisco Nobre, economistas da XP, para a política monetária, o índice que realmente importa para o Fed é o PCE, que acompanha os preços do consumo e que sai no final do mês. “Com base nos dados de hoje e amanhã (PPI), já podemos ter uma ideia de como ele virá. A tendência da inflação no curto prazo é benigna, mas o desafio será trazer a inflação dos atuais 2,7% para a meta de 2% em 2025”, comenta.
Na opinião de Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management, o relatório de inflação de hoje provavelmente confirma um corte na taxa de juros do Fed na próxima semana, mas, com o core da inflação atingindo sua taxa mais alta desde o início de 2024, as pressões de preços dificilmente estão se acomodando em um nível com o qual o Fed fique à vontade.
“O mercado esperava uma surpresa altista e recebeu os números de hoje de forma positiva, já que vieram abaixo do esperado. E, certamente, há algumas boas notícias – a inflação de aluguel caiu para o ritmo mais lento desde janeiro de 2021”, destaca.
Para ela, o Fed seguirá preocupado com a natureza ‘teimosa’ da inflação e será cada vez mais cauteloso com os riscos de alta da inflação que as políticas do presidente eleito Donald Trump podem trazer. “Esperamos que o Fed saia do piloto automático em janeiro, adotando um tom mais cauteloso e diminuindo seu ritmo de cortes para as reuniões”, estima.
Júlio Rossato