A defesa da democracia e a regulamentação das redes sociais
No dia em que os ataques violentos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, completaram dois anos, na quarta-feira (8), autoridades do Brasil aproveitaram seus discursos sobre a defesa da democracia para mandar recados às big techs e ao empresário Mark Zuckerberg, dono da Meta (administradora das redes sociais Instagram, Facebook e WhatsApp).
Na última terça-feira (7), ele anunciou o fim da checagem de informações e a redução da moderação de conteúdo em suas plataformas, medidas que devem impulsionar a desinformação nas redes sociais.
A regulamentação das redes sociais é o maior desafio da atualidade
Protagonista de um embate público com o empresário Elon Musk, dono do X, no ano passado, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse ter “absoluta convicção” de que a Corte vai regulamentar as redes sociais.
“Não posso falar pelo resto do mundo, mas, pelo Brasil, tenho absoluta certeza e convicção de que o STF não vai permitir que as redes continuem sendo instrumentalizadas, dolosa ou culposamente, ou somente visando ao lucro, para ampliar discursos de ódio”, afirmou Moraes em evento sobre os 2 anos do 8 de janeiro com servidores do tribunal.
O Supremo começou a julgar no ano passado dois processos que discutem a responsabilidade das redes sociais por conteúdos de terceiros. O julgamento foi suspenso por um pedido de vista do ministro André Mendonça e deve ser retomado no início deste ano.
Moraes atribuiu às redes sociais a “verdadeira causa” dos atos golpistas de dois anos atrás. “A grande causa de tudo isso não foi debelada, não foi nem regulamentada”, disse o ministro. Na visão do magistrado, a regulamentação das redes é o maior desafio da atualidade. “É esse hoje o desafio no Brasil e no mundo, de não permitir que as big techs, com seus dirigentes irresponsáveis, por achar que, por terem dinheiro, podem mandar no mundo, de regulamentar e responsabilizar”, afirmou.
A regulamentação não é censura
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o governo brasileiro não será tolerante com as fake news. “Não seremos tolerantes com os discursos do ódio e as fake news que colocam em risco a vida de pessoas.
Futuro ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Sidônio Palmeira também se manifestou sobre a big tech e declarou que a decisão da Meta é ruim para a democracia.
“Isso é ruim para a democracia. Porque você não faz o controle da proliferação do ódio, da desinformação, das fake news. Esse é o problema, precisa ter um controle. É preciso ter uma regulamentação das redes sociais. Isso está acontecendo na Europa, nos países aqui”, disse a jornalistas depois de ato no Palácio do Planalto alusivo ao 8 de janeiro.
Na mesma linha, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que o ataque às instituições democráticas começou a partir das desinformações que contestaram a integridade da Justiça Eleitoral. O ministro que, na época dos ataques, integrava o STF destacou que a disseminação de notícias falsas foi responsável pelo aumento da polarização. “Vimos todos os discursos de ódio e a disseminação de notícias falsas crescerem, alimentando a polarização e criando a narrativa de ‘nós contra eles’.”
A falta de fiscalização pode potencializar ações antidemocráticas
Na avaliação do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, a redução na moderação de conteúdo em plataformas, como a que foi anunciada pela Meta, tem potencial de agravar situações como as ocorridas em 8 de janeiro de 2023. “Me parece que seria a tendência, porque o que se viu foi a orquestração feita toda pelas redes sociais com a desinformação”, afirmou, em entrevista à Rádio CBN.
Para o chefe da PF, a falta de fiscalização pode “potencializar essas ações”, dado o histórico de como milícias digitais foram, segundo ele, utilizadas para atacar a democracia.
Fonte: Estadão Conteúdo
Júlio Rossato