Cenário da aviação civil no Brasil dificulta aprovação da fusão entre Gol e Azul
O cenário da aviação civil no Brasil torna particularmente complexa uma aprovação regulatória da união entre as companhias aéreas Gol e Azul, que combinadas responderiam por mais da metade do mercado doméstico, ao lado da filial brasileira da Latam, disseram especialistas ouvidos pela Reuters.
A formalização do interesse na combinação marca o início do processo para a obtenção de aprovações regulatórias, incluindo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que deve ser complexo dadas as particularidades do cenário brasileiro de aviação, disse a advogada especialista em Direito Aeronáutico, com ênfase em Regulatório, Nicole Villa.
O que pode acontecer?
Villa comentou que o Cade pode dar aval ao acordo, mas deve impor condicionantes para sua aprovação, como a cessão de “slots” – autorização que a empresa aérea tem para operar um voo num determinado intervalo de horário em um aeroporto – para a rival Latam, que teria então que provar ter condições de prestar o serviço.
André Castellini, sócio sênior da Bain na América do Sul nas áreas de private equity, estratégia e aviação, citou como exemplo a fusão entre as companhias aéreas LAN e TAM, que formou a atual Latam.
“Eles tiveram que abrir mão de certos slots em Guarulhos. Então talvez eles tenham que abrir mão de certos slots ou deixar outros concorrentes operarem certas rotas.”
Impacto no mercado
A potencial união da Azul e da Gol formará uma empresa com cerca de 60% do mercado de voos domésticos brasileiros, superando os 40% da concorrente Latam, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Analistas do Santander, liderados por Lucas Barbosa, notaram que, embora os efeitos a longo prazo possam ser negativos para a Latam, ela pode se favorecer por muitos anos da “integração complexa” da possível fusão da Azul, uma vez que esse processo pode dificultar um movimento mais agressivo da nova companhia.
Aumento dos preços das passagens
Com relação ao potencial aumento dos preços das passagens aéreas em caso de consumação da fusão, os especialistas destacaram que são esperados maiores valores com ou sem a conclusão do negócio, dado o fortalecimento do preço do petróleo no mercado internacional e os recentes recordes do valor do dólar ante o real.
“Os custos de se operar uma companhia aérea são mais de 60% em dólar…e você tem um endividamento e um custo da dívida muito alto” entre essas empresas, afirmou Castellini.
Júlio Rossato