Mercados Precificam Cortes de Juros do Fed em Meio a Tarifas dos EUA
Agentes de mercado aumentaram as apostas de que o Federal Reserve cortará os juros ainda este ano e passaram a considerar a possibilidade de uma redução emergencial, antes mesmo da próxima reunião do banco central, em meio a temores de recessão global provocados pelas tarifas anunciadas pelo governo dos EUA.
Os mercados passaram a precificar 125 pontos-base de cortes até o fim do ano, o equivalente a cinco ajustes de 0,25 ponto percentual, segundo contratos de swap de juros overnight. Embora parte do movimento tenha sido revertida, a alta foi significativa: na semana passada, apenas três cortes estavam totalmente precificados. Os swaps também apontam cerca de 40% de chance de uma redução de 25 pontos-base já na próxima semana — antes da decisão de política monetária marcada para 7 de maio.
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Wall Street tenta se acomodar em meio às tarifas anunciadas pelo governo Trump. A reprecificação rápida reflete o temor que domina os mercados globais, com o presidente dos EUA, Donald Trump, mantendo a postura firme em relação às tarifas comerciais anunciadas na semana passada. Investidores estão se desfazendo de ativos de risco e buscando segurança nos títulos públicos, o que derrubou os rendimentos. O juro do Treasury de dois anos — mais sensível à política monetária — chegou a cair 22 pontos-base nesta segunda-feira, para 3,43%, acumulando queda de cerca de 50 pontos-base desde o anúncio das tarifas, na última quarta-feira.
Cortes emergenciais e reações nos mercados globais
Cortes emergenciais de juros são incomuns e foram usados pela última vez pelo Fed no início da pandemia de Covid-19, em 2020. Na Europa, os títulos alemães também dispararam nesta segunda, com o rendimento do papel de dois anos recuando até 20 pontos-base, para pouco acima de 1,60%, menor nível desde outubro de 2022. Nos últimos dias, o JPMorgan Chase passou a prever recessão nos EUA ainda em 2025. O Goldman Sachs também revisou suas projeções na semana passada, considerando três cortes como cenário-base tanto para o Fed quanto para o Banco Central Europeu.
Operadores também reduziram apostas de cortes no BCE e no Banco da Inglaterra, diante da expectativa de que os dois precisarão agir para proteger suas economias. Ainda assim, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na sexta-feira que não pretende agir com pressa, mesmo diante da turbulência. “Não espere que o Fed salve os mercados com um corte emergencial”, disse Elias Haddad, estrategista da Brown Brothers Harriman.
Júlio Rossato