Retorno de Trump pode acentuar concorrência no agronegócio com Brasil
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos no próximo dia 20 deve acentuar a concorrência no agronegócio entre Brasil e Estados Unidos. Para especialistas em comércio exterior, representantes de entidades privadas e do governo, ouvidos pelo Broadcast Agro, o agronegócio brasileiro pode ganhar com as políticas protecionistas de Trump nas exportações a outros países, mas perder no próprio comércio com os Estados Unidos.
Impacto nas exportações
Trump promete aplicar tarifas elevadas sobre produtos importados pelos Estados Unidos e repetir o conflito com a China. Em eventual troca de retaliações entre os países, o Brasil pode se favorecer do redirecionamento da demanda chinesa de soja e milho, embora em menor grau ao observado na primeira fase da guerra comercial sino-americana no primeiro mandato de Trump. A tendência é o Brasil ocupar mais espaço no fornecimento de grãos ao mercado asiático, se confirmada uma escalada do conflito comercial sino-americano, pelo menos no curto prazo.
Relação com os Estados Unidos
Já na relação com o Brasil, a postura de Trump de maior protecionismo à produção local pode atrapalhar as tratativas para aberturas e ampliações de mercados entre os países. Diplomatas que atuam nos Estados Unidos avaliam que a possibilidade de ampliar a cota de carne bovina e de açúcar brasileiro vendidos ao mercado norte-americano dependerão de contrapartida brasileira, como a redução da tarifa sobre importação de etanol dos EUA.
Expectativas do agronegócio brasileiro
Representantes do setor sucroenergético e da indústria da carne não esperam avanços nas negociações para ampliar a cota de exportação sem tarifas de carne bovina e açúcar brasileiros ao mercado norte-americano. No entanto, a diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, acredita que o Brasil tem condições de ampliar o fornecimento de alimentos para a China e demais destinos, seja a demanda adicional gerada por uma guerra comercial ou por questões climáticas adversas. O interesse do agronegócio brasileiro em ampliar o comércio com os Estados Unidos continua, mas o país deve estar preparado para prover eventuais necessidades que outros países possam ter em virtude de uma possível escalada protecionista nos Estados Unidos com reflexo nos produtos exportados pelos norte-americanos.
Júlio Rossato