França distribuirá manual de sobrevivência para população
Enquanto a Comissão Europeia propõe que cada família do bloco esteja preparada para sobreviver 72 horas sem apoio externo, a França parece ser, até agora, o único país com planos concretos para colocar essa ideia em prática. O governo francês anunciou que pretende distribuir, antes do verão europeu, um “manual de sobrevivência” a todos os lares do país — e pode incluir kits com itens essenciais.
Assim como o guia apresentado por Bruxelas, o manual francês também traz uma sugestão clara de kit de emergência: seis litros de água por pessoa, uma dúzia de latas de comida, lanternas, pilhas e suprimentos médicos como paracetamol, compressas e soro fisiológico.
Outros itens que serão recomendados pelo manual incluem rádio, canivete suíço, roupas de frio, cópias de chaves de casa e de veículos, além de jogos, cópias de documentos e dinheiro em papel.
Parte desses itens, disse o governo francês, será distribuído à população.
Segundo uma porta-voz do primeiro-ministro François Bayrou, o objetivo é preparar a população para “ameaças iminentes”, como desastres naturais, ataques terroristas, pandemias e até conflitos armados no território francês. “O manual visa incentivar os cidadãos a desenvolver sua resiliência diante de diferentes tipos de crise”, disse em entrevista à CNN no último dia 19.
O livreto de 20 páginas, que aguarda aprovação final do governo, será dividido em três seções com orientações práticas. Entre as recomendações estão: manter uma lista de contatos de emergência, saber sintonizar rádios de comunicação em caso de blecaute, fechar todas as portas durante um acidente nuclear e até considerar o voluntariado em forças de reserva locais.
“Sempre tenho pelo menos seis garrafas de água comigo”, disse Hadja Lahbib, comissária europeia responsável pelo plano lançado na quarta-feira (26).
A medida acompanha um movimento mais amplo de fortalecimento das capacidades defensivas do país. No início de março, o presidente Emmanuel Macron anunciou planos para ampliar o número de reservistas militares de 40 mil para 100 mil até 2035. “Nosso país e nosso continente devem continuar a se defender e se preparar, se quisermos evitar a guerra”, afirmou Macron durante visita a uma base militar.
Enquanto isso, outros países da União Europeia seguem em compasso de espera. Apesar do apelo feito pela Comissão para que os Estados-membros adotem ações coordenadas, até o momento não há sinais de que medidas similares estejam em curso em grande escala fora da França.
Para especialistas, a diferença de ritmo entre os países europeus reflete não apenas o cenário político interno de cada um, mas também a percepção de risco da população. “Países nórdicos como Suécia e Finlândia têm uma cultura de preparação mais enraizada”, disse à CNN a professora francesa Laure Mourgue d’Algue. “Na França, esse conhecimento ainda é incipiente — mas essa cartilha faz sentido como ponto de partida.”
Júlio Rossato